sábado, fevereiro 14, 2009

A decadência de Mugabe

Na sequência deste último post, pedi a um amigo meu que conheço da Faculdade que viveu os primeiros anos de vida no Zimbabwe, dedicando naturalmente ainda hoje uma especial atenção à situação do país, além da sua elevada cultura, inteligência que são certamente genéticos :), que fizesse um texto sobre o Zimbabwe, desafio que, prontamente, aceitou. O texto é extenso, mas vale a pena ler.
Passamos a transcrevê-lo:

A decadência de Mugabe
Robert Gabriel Mugabe, governa o Zimbabué desde 1980. É considerado por muitos como um ditador, sendo o seu regime acusado de oprimir o seu povo de ter um conduzido o país a ruína e de nada fazer para aliviar o sofrimento dos habitantes do Zimbabué, que ultimamente se têm visto a braços com uma terrível epidemia de cólera.

Mas nem sempre foi assim durante a década de 80 e inícios da década de 90, o Zimbabué era um país com uma política social que estava a ter frutos com a esperança média de vida a aumentar (passou dos 56 aos 64 anos), a taxas de mortalidade infantil caíam de forma considerável e era um país em que a taxa de analfabetismo era inferior ao da maior parte dos países em desenvolvimento. Além do mais era um país que atraía muitos turistas por ser tranquilo, que assim vinham ver a fauna selvagem das savanas Africanas e uma das maiores belezas do mundo natural, as impressionantes cataratas de Vitória “Victoria Falls”.

No entanto em especial após a viragem de século as politicas de Mugabe tem sido desastrosas e impostas pela força. Uma das mais mediáticas foi a apropriação de terras aos agricultores brancos, por um grupo de veteranos de guerra apoiados pelo governo, que levou a morte de muitos agricultores que resistiram a ocupação das suas terras, que lhes eram tiradas sem terem direito a nenhum tipo de indemnização. Esta política revelou-se desastrosa fazendo transformando o Zimbabué num país exportador de alimentos, para um dependente de ajuda internacional para alimentar a sua população. E como reage e actua a comunidade internacional perante a situação dos fazendeiros brancos e mais recentemente, pela inércia do governo perante um terrível surto de cólera e do aumento da violência e da opressão contra a oposição? Uma das medidas mais utilizadas para pressionar o governo de Harare têm sido a aplicação de sanções económicas que tem contribuído para piorar ainda mais a situação económica do país tendo a inflação ultrapassado o 100 mil porcento e a suspensão na participação em organizações internacionais como a Commonwealth que o país abandonou em Janeiro de 2003. Mas para além de sanções e de condenações as políticas de Mugabe que contribuem para o aumento do isolamento do país é difícil encontrar outros meios de actuação por parte da comunidade internacional que não implique o recurso da força.

Em primeiro porque esta não se encontra unida na “oposição” ao regime de Harare tendo este muito apoio de muitos países Africanos e não só que o apoiam politicamente. Em segundo porque aqueles que o condenam estão em desacordo em relação a maneira como se deve lidar com o regime. Basta olharmos para o que se passou na cimeira Europa/África realizada em Portugal, no qual chefes de Governo e de Estado recusaram se a comparecer (como foi o caso do Reino Unido) recusando o dialogo com o regime de Mugabe atitude que deixa pouco espaço para a diplomacia, e outros países como Portugal que preferem a via do dialogo tentando assim a que o ditador faça cedências em prol de uma diminuição das sanções e do isolamento sofridos pelo país. No entanto as actuações em especial dos países Europeus são olhadas ainda com desconfiança sendo muitas vezes acusadas de querem voltar a instaurar uma politica de colonialismo.

Salvador Lobo Antunes

1 comentário:

Anónimo disse...

Um ponto de vista interessante, que mostra uma outra face da moeda.