As listas de apoio aos candidatos favoritos são patéticas. Primeiro, porque o apoio a um candidato favorito reflecte um interesse particular na eleição para um cargo público. Segundo, porque muitas das pessoas que agora apoiam a eleição de Carlos César já manifestaram em tempos apoio à eleição de Mota Amaral. Terceiro porque os apoios recolhidos são normalmente de pessoas do sector empresarial o que indicia uma perigosa confusão entre interesses públicos e empresariais. Também, porque a existência deste tipo de listas acaba por degradar a nobreza das verdadeiras listas, daquelas que envolvem sacrifício e entrega. Finalmente porque as pessoas que assinam as ditas listas acabam por se arrepender de o fazer, quer pela vergonha subsequente ao anúncio, quer pela constatação de que a pequena vantagem que poderão ganhar é tão efémera quanto enganosa.
Lembro-me de outras listas de apoio que foram surgindo por aqui. Em 1988 fiquei triste quando alguns tecnocratas meus amigos assinaram uma lista de apoio à candidatura de Mota Amaral. Até poderia ser genuíno mas as razões porque o fizeram não eram muito diferentes das que eram subjacentes às listas de apoio que terão surgido na Alemanha Nazi, na União Soviética ou na chamada “longa noite fascista”. Aposto que Vladimir Putin terá tido o mesmo tipo de apoios nas eleições recentes na Rússia e o mesmo terá acontecido nas listas de apoio a Saddam Hussein quando aquele governante ainda mandava no Iraque. Estou a ver os comissários do partido do poder a pedirem uma audiência ao Senhor Director ou ao Senhor Administrador. Estou a imaginar a reflexão dos prós e dos contras por parte dos inquiridos. É que a mente humana é sempre profícua em arranjar argumentos. “Afinal de contas não há alternativa!”, mas isso é exactamente o que diriam no tempo de Mota Amaral. “Ao fim e ao cabo sempre fui pela social-democracia e o PS faz uma política social-democrata”, e lá está de novo mesmo argumento que se aplicaria à outra situação. “Tenho que considerar os interesses da minha empresa e da minha instituição” e lá se repete o mesmo pendor de coluna que molesta a consciência. “Qual é o mal? a verdade é que dou a cara o que alguns outros não têm sequer coragem de fazer!”, dirão finalmente quando se confrontarem com artigos deste tipo.
Lá isso é verdade. Dão a cara e, só por isso mereceriam um aplauso. Pelo menos face à restante fofoca que não se assume nem por um lado nem por outro, antes pelo contrário. O problema é que, normalmente, nada fazem para além da assinatura. Bom seria que, em vez de ficarem comprometidos com César, fosse César a ficar comprometido com o que viessem a defender com frontalidade. Estou a pensar num artigo do Senhor Administrador a defender a liberalização dos transportes aéreos e marítimos para que as empresas dos Açores ganhem nova competitividade. Estou a imaginar, numa entrevista para um canal de televisão do país, um qualquer Director apoiante a argumentar a necessidade de se regular a liberalização da produção de energia para que a competição entre fornecedores estimule a inovação e o abaixamento dos preços. Estou a sonhar com uma situação em que um deles vem propor regras mais transparentes na concessão de subsídios e de concursos porque se sente envergonhado dos pequenos cambalachos que rondam o poder. Estou a exigir que aqueles que têm interesses nos recursos marítimos denunciem a venda do mar dos Açores encapotada no propositadamente complexo Tratado de Lisboa.
E é assim que vos posso dizer que não apoio César. Porque é cúmplice na cedência do mar dos Açores, porque é responsável pela desastrosa política de transportes aéreos e marítimos, porque tem uma política agrícola incoerente, porque tem uma política ambiental de papel, porque é incapaz de lançar os Açores num processo sustentável de desenvolvimento que promova as pessoas e os sítios de todas as ilhas.
Prof. Tomaz DentinhoAçoriano Oriental, 20 de Dezembro 2007
É bom que se diga. O apoio a uma candidatura é algo normal. Evidente, sem grande discussão. Mas neste caso não é indiferente. Por várias razões. Uma, muitos, que têm sido divulgados pela Comunicação Social, são ex-apoiantes e militantes do PSD. E que tiveram um grande peso na máquina do PSD no tempo de Mota Amaral. Eram eles que serviram os Açores, e serviram o PSD. E serviram-se do PSD e dos Açores também. É flagrante. Agora, aqueles que dependem e muito do tal subsidiozinho do governo, vêm apoiar Carlos César para continuarem a receber o tal dinheirinho que bem precisam para encobrir a desastrosa gestão que têm nas suas empresas. Vem continuar a sugar da Região, o que podem, são os subsidiodependentes, e não querem alternância do poder, para assim se manterem. Não querem mudar, mesmo para o Partido no qual toda a vida militaram. Aceito que qualquer um possa mudar de Partido. Não totalmente, mas aceito, se isso acontecer devido ao facto de não se identificarem com o Partido, com a ideologia ou com as suas políticas. Agora não aceito e repudio por completo, aqueles que se serviram do Partido para chegarem a algum lugar, mais longe, porque de facto o poder é tentador.
Tenho é pena dos trabalhadores que, muitas vezes, recebem os justos salários, atrasadamente, enquanto se esbanja dinheiro em coisas que nem ao diabo lembra! Estes, sim, são reféns da incompetência de alguns.
Seria um tema para muitas horas, e em São Jorge, certamente que irá desencadear muita conversa, e espero muitos protestos. Além de esperar que o tema seja discutido internamente, a nível de ilha e a nível regional. Sem pudores nem falsas verdades!
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