domingo, novembro 09, 2008

Eleições Açores I

O prometido é devido.

Bom, antes de tecer alguns comentários importa transpor algumas estatísticas dos resultados eleitorais de São Jorge:

2004, a nível de ilha:
PPD/PSD.CDS-PP: 2571 votos (50, 67%) – 2 mandatos;
PS: 2249 votos (44, 32%) – 2 mandatos;

2008, a nível de ilha:
PS: 2.156 votos (43,20%) 2 mandatos;
PSD: 1.597 votos (32,00%) 1 mandato;
CDS-PP: 1.029 votos (20,62%) 1 mandato;

Há várias coisas a dizer, uma das quais significativa: em 2004 o PSD estava coligado com o CDS, elegendo, assim 2 deputados militantes do PSD.
Em 2008 o PSD não vai coligado, não conseguindo, assim, eleger o 2º deputado, perdendo este para o CDS. Esta é, para mim, uma constatação inquestionável.
E se o PSD e CDS repartiram-se, o PS desceu no número de votos: teve nestas eleições menos 100 votos que em 2004.
Obviamente que há que contar com a abstenção que subiu ligeiramente (de 38,96%)para os 39,48%), mas só isso não explica a descida do PS (quer em São Jorge, quer nas restantes ilhas em geral).

Face a estes resultados acho que não há qualquer dúvida em afirmar que o PSD sofreu uma pesada derrota. Nunca em São Jorge o PS tinha superado o PSD e isso verificou-se agora.
Em relação ao PS devo dizer que a estratégia para ganhar em São Jorge foi muito bem montada… era inequívoco o empenho de Carlos César em conseguir derrubar o “bastião laranja”. Muito dinheiro foi lançado nos últimos meses antes das eleições para assegurar que o Governo estava de boa vontade e era generoso para com a população de São Jorge. Até porque este seria um momento histórico e, como tal, poderia assinalar uma viragem da tradição jorgense… e impulsionar eleições futuras (além de que torna César líder absoluto em todas as ilhas dos Açores). Mesmo assim, isso não foi suficiente para evitar a perda de alguns votos, como vimos acima.

Mas se há algum mérito do PS em procurar não descer muito em relação a 2004, assegurando um resultado muito semelhante ao obtido nessa altura, há, em minha opinião, demérito do PSD.
Há demérito por várias razões, ou várias prováveis razões (ninguém o poderá afirmar categoricamente que será por x, y ou z…):
  • i) Incapacidade de previsão do resultado do CSD: aquilo que para mim foi de certa forma surpreendente, não podia ser ignorado para quem está no poder, para quem vive política 24h/dia e está nisto há muitos e muitos anos (há mais anos do que aqueles que hoje tenho…). Um Partido que consegue 1029 votos não pode, nunca, passar despercebido. A força do CDS surpreendeu-me, já o disse, mas não podia ter surpreendido a todos. Os políticos que elegemos servem para, como disse Mota Amaral um dia em debate quinzenal com o Primeiro Ministro, “prever e prover”. E faltou isso. Capacidade de prever para poder responder.
  • ii) Mas, imaginemos que não faltou capacidade de antecipação e que os responsáveis estavam atentos ao fenómeno CDS. Então tudo se torna mais grave. Se estavam conscientes e tomaram as decisões que tomaram, então fizeram más escolhas, por exemplo, na elaboração da lista.
  • iii) Quanto à elaboração da lista, não tenho problemas em dizê-lo, porque já o tinha dito antes desta sequer ter saído para a rua: julgo que a lista devia ter passado primeiro por uma assembleia de ilha (sob proposta da Comissão Política de Ilha), para obter a opinião dos militantes. Com ou sem voto, os militantes deviam ter sido chamados a se pronunciarem. À crítica de que isso geraria enorme confusão e iria trazer problemas internos ao PSD eu defendo que ao invés dessa turbulência, isso faria com que os militantes se sentissem mais próximos do Partido, faria com que os militantes se sentissem mais próximos das decisões, enfim, dava outra legitimidade à lista que saiu sem o crivo popular (e não representativo) dos militantes base. E, também, por terem sido parte da decisão, motivá-los-ia na campanha e na transmissão da mensagem. O PSD não vive só dos seus dirigentes, tem de contar com todos. E com todos significa com os de há 20 anos (mas que não têm necessariamente de figurar sempre nas listas) e com os de há 4, 5 6 anos… o critério não é a idade de militância, mas também não é possível que os nomes e as caras sejam sempre os mesmos (este é um argumento repetido constantemente mas que é ignorado com maior insistência ainda). Basta uma simples comparação com a lista deste ano, com a lista de outros anos e de outras eleições.

Contra isto pode-se argumentar: mas então quem? Quem dizes que deve ir para a lista?
Bom, essa é uma questão mais complexa e é uma questão imputável a todos os órgãos do PSD: se não há ninguém é porque não existiram condições para aparecer alguém e essas condições têm de ser criadas por quem está nos órgãos do Partido, por quem tem responsabilidades e foi eleito para alguma coisa fazer. É preciso fazer mais para chamar as pessoas, independentes, jovens, quadros profissionais para o PSD, porque sem isso, não há regeneração, não há vitalidade, não há novas ideias, há um Partido fechado e sempre com os mesmos rostos.

  • iv) Quanto ao facto do Presidente da CPI não ter encabeçado a lista do PSD por São Jorge: é uma questão discutível. O cargo que ocupa, o facto de ter sido recentemente Vice-Presidente do PSD Açores e de ter conseguido, por exemplo, trazer Marques Mendes a São Jorge, bem como inúmeras vezes o Presidente do PSD Açores, Costa Neves, só por si, daria toda a legitimidade para encabeçar a lista por São Jorge. E até porque, o concelho originário do cabeça de lista teve sempre mais peso eleitoral do que o concelho vizinho. O Presidente da CPI foi sempre o cabeça de lista por ilha, porque não agora?! É uma questão legítima de se fazer, e que muitos terão feito. No entanto, é compreensível que, face pretensão da CPC Velas em manter a tradição das anteriores eleições, o Pres. da CPI tenha cedido o seu natural lugar à CPC vizinha. Se estivesse no seu papel, seria o que faria a bem da pacificação interna.

Em relação às propostas que o PSD apresentava para São Jorge nada tenho a me opor. Julgo muito positivo que caso fosse Governo, o PSD se comprometesse a assegurar a permanência das Escolas nas freguesias, a aumentar a pista do aeródromo de São Jorge, a assegurar a construção de uma pousada da Juventude, a garantir a construção de 3 lagoas artificiais, a pavimentar 25km de caminhos agrícolas… só para citar algumas. E, claro, a redução em 30% do preço das passagens aéreas.

Portanto, destes resultados de uma coisa tenho a certeza: enfiar a cabeça na areia, como as avestruzes fazem, não permitirá evitar o que a seguir poderá advir. E por isso, na minha humilde opinião, é preciso analisar estes resultados estatísticos e políticos, apurar responsabilidades e mudar alguma coisa! Mesmo que isso signifique agora alguma contestação e algumas críticas. É necessário escrutinar quem anteriormente deu ao PSD grandes vitórias, mas que agora, levou o PSD a uma grande derrota. E temo que se algo não se mudar, isto não se fique por aqui. Por isso é levantar cabeça, ter capacidade de encaixe, e não pôr paninhos em água quente para esquecer o que se passou de forma a evitar grandes tumultos. Se antes das listas era compreensível o silêncio para não prejudicar o Partido, agora tudo o que não se fizer o prejudicará ainda mais.

Uma situação que quero salientar. Os meus parabéns à JSD São Jorge que esteve muito activa nestas eleições e, portanto, não será pela sua inércia certamente que estes resultado se explicam.
À JSD Açores, os meus parabéns pela eleição de um deputado, do Cláudio Almeida, que tem todo o mérito em ter colocado a JSD onde merece, na defesa das ideias da juventude açoriana (que tem sido muito desprezada).
E claro, ao dr. Costa Neves. Tenho uma imensa estima pelo ex-líder porque acreditava na sua competência, no seu enorme empenho, na sua integridade e na sua frontalidade. Não tenho dúvida nenhuma de que seria um excelente Presidente de Governo. E, por isso tem toda a minha consideração.

Antecipando as críticas, eu também não fiz a minha parte como cidadão (o que nada tem a ver com ser militante). Não votei porque ainda não me recenseei. Mas não me parece que esse facto diminua a minha opinião que aqui expresso!

Obrigado a quem teve a pachorra de ler todo este post. Peço desculpa por não saber ser mais económico nas palavras.

3 comentários:

Anónimo disse...

E será que todos terão a coragem de dizer o mesmo que tu?!

Anónimo disse...

Gostei de ler!
Penso que foi a tua visão mais próxima da neutralidade alguma vez postada neste blog.
Quanto à minha opinião:
Penso que o PSD "pecou" no facto de manter os cabeças de lista, e com a falta de originalidade no seu programa. Uma vez que a maior parte dos projectos que anunciaram já tinha ouvido falar pela parte do Governo anterior (PS). Também, considero que a lista apresentada pelo PSD por São Jorge não era a mais adequada: tinha pessoas sem formação e sem historial político (que eu saiba). Sinceramente, daqueles que conhecia da lista, não queria ver alguns de lá no parlamento, por nada deste mundo. Digo isto mesmo sabendo que eles não estavam em lugares elegíveis. No entanto, se estavam lá, é porque lhes dão credibilidade para que, um dia, ponham os pés no parlamento. Não quero ofender ninguém, mas é isso que penso!
Por outro lado, independentemente disso, acho que o PSD não tinha qualquer hipótese tendo o Costa Neves a fazer frente ao Carlos César. Era mais do que óbvio que o PS iria ganhar a nível Açores, com maioria absoluta. Foi o que sempre pensei para estas eleições. E, para que se conste, sou CENTRALISTA! Não sou militante de partido algum, não sou "simpatizante" de partido algum. Voto na "equipa" que demonstra mais capacidades e com directivas de acção (se é que isso se apllica hoje em dia; já não se sabe quem é de esquerda e quem é de direita...) que acho mais adequadas, para cada momento.
Para mim, o resultado das eleições em S.Jorge foi uma surpresa. Significa mudança!
Parece-me que alguns (nunca direi "todos") eleitores da ilha tenham aprendido, finalmente, o que é um boletim de voto e o que significa um voto consciente! Já não é votar numa determinada cor porque o pai ou a mãe já o faziam. EVOLUÇÃO!
Vamos lá ver se, nas autárquicas, terão a esperteza de votar na mesma cor que a do Governo Regional, para verem mais algum investimento na sua terra...

Anónimo disse...

Para que a autoria do post das 9:22 AM não suscite dúvidas, fui eu que o escrevi: a_nocaas.